quinta-feira, outubro 30, 2008

aparte

nesta brincadeira da escrita,
que descrita como brincadeira
não é palavra que a dignifique,
penso em diversas maneiras
de criar algo que me identifique.
crio uma forma, um corpo,
uma vil combinação de pontos
criando a figura em metáfora
por entre letras e palavras
descritas de forma pictórica,
poética e, talvez, heróica.
parece que não sei
o que não quero dizer,
e o que quero dizer
creio que não o sei.
sei contudo, que o tempo que perco,
e defini-lo como perdido
é pura perda de tempo,
é o tempo que me sobra
do tempo que não tenho
para desfazer o que feito
não mais pode ser quebrado.
uma acção, que por mais palavras
que se encontrem para a (des)culpar,
não conseguem sequer descrever
o bem ou o mal que vão causar

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quarta-feira, outubro 29, 2008

tu sabes

não sei,
tão simples como saber que não sei
que não é o mesmo que não saber se sei
e é tão válido como não saber mesmo

mas sei,
sei que existes, estás,
vives um pouco em mim,
embora eu em ti viva de forma diferente

não espero chegar até ti.
espero tocar-te, sentir-te em mim,
que me toques, e te sintas em mim.
tocar-te na alma,
sentir que te sou importante,
que existo e tenho um fim
e que nessa finalidade
o teu sorriso seja uma constante,
que me ilumine na diversidade
de caminhos que possa escolher,
e que nesses caminhos nos encontremos,
quer seja Deus ou o Homem a querer

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domingo, outubro 26, 2008

10 minutos

desperto o eu que só eu
desconheço dentro de mim
e ao sentir o que aconteceu
desconheço o seu princípio ou fim

e no silêncio do vazio
descubro o nada que se espalha
por entre o ser sombrio
que me conduz por uma calha

e sigo esse caminho
quer seja ou não meu
pois pior que estar perdido
é não saber que caminho se escolheu

e assim por lá vagueio
sem norte, sul, ou outra coordenada
sabendo que o caminho que tacteio
me irá levar à minha eterna morada

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sábado, outubro 18, 2008

o nós, tu e eu, eu e tu

sentimos, sentimos, sentimos,
queremos, queremos, queremos,
não sabemos a dôr que infligimos
nem a que guardamos em segredo.

gostava de começar com um nós,
com a saudade que me vai na alma
que me liberta a mente e a voz
mas que não me dá qualquer calma.

tu acolá, eu ali, nós separados,
separados pelo longe
que o amor une de ambos os lados.

eu parto e retorno,
tu ficas e esperas...,
nós existimos em dintorno.

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terça-feira, outubro 07, 2008

rien de rien

Saltam os cantos pelo ar,
salta o tempo da varanda
e o vento no seu lupanar
grita como em propaganda

de nada me vale cantar em prosa
ou em poesia - por sinal,
porque enquanto aquela rosa
não florir... não vou morrer do mal

e por mais incorrecto que pareça,
o sol desponta do precipício
e faz com que a lua padeça
da miserável condição do seu ofício

subjugada em convénios,
por génios, sábios e afins,
e quais génios despautérios
que deixam cair em dobras de cetim

e espaçam o tempo as palavras
que gritam como um orgasmo
em uníssono, bem rasgadas,
fazem um rasgo entre a multidão
inebriada pelo doce afago
de serem paridas num caixão

talvez o vento gema e grite
e o mar arrebata a rocha
abraçando-a com meiguice

e talvez o tempo salte,
só, para sentir a vertigem
de sentir vivo ao cortar-se
nos juncos e pedras do rio
que se chama liberdade

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