terça-feira, dezembro 04, 2007

procuro-me

o que é o eu se não mais
que a miscigenação
perpetrada pelo cognoscente,
que se desconhece
como individuo próprio
de culpas e ideias
e ideais desculpabilizados?
os mecanismos que nos defendem,
também de nós próprios,
são próprios de nós
e, como tal, escondem-se em si
tal como nos escondemos em nós.
fugimos de nós, e caímos no esquecimento,
até nos esquecemos de fugir,
e o esquecimento nos apanhar,
quando apanhamos o afastamento.
esqueço-me porque comecei,
perco-me nos porquês.
procuro no esquecimento
o porquê de começar a escrever.
e assim termino o que julgo
nunca ter começado.

viagem pelo sorriso

perdido no espaço
tento atracar a alma ao porto,
e acerto-a,
como dois ponteiros que se afastam,
para depois se unirem.
olho para o mapa
que se cria no olhar
e na sua face
vejo o mundo a mudar,
como o seu sorriso
que se mostra por entre as suas estrelas
e se esconde nas suas ideias,
que brilham num firmamento próprio.
e o relógio pára.
terá também parado o tempo!?
quanto tempo terá o tempo
que perdemos a pensar
no tempo que perdemos?
e o tempo assim se esvai.
e assim o tempo se exarou
no olhar que se perdeu
pois os olhos fecharam
e o sorriso floresceu

revelação

senti.
senti o que pensava sentir
mas não tinha sentido ainda.
gostei da prova,
gostei do sabor,
gostei da resposta,
gostei do fulgor,
gostei da ideia.
senti sabores diferentes,
senti com a alma
com tremenda doçura,
e saboreei um novo sabor
com uma nova textura.
senti o que precisava
para não precisar sentir
que o que sinto é tão só
o que os sentidos escondem

a ti que amo

a distância que nos separa
é a mesma que nos aproxima,
a mesma que nos faz lutar,
e aquela que nos deixa rir.
é a grandeza de ser
e a pequenez de não te ter
por perto das minhas mãos,
mas estares perto de mim
através dos meus pensamentos,
pensando em ti, pensando em nós,
em um, dois, todos os momentos.
e perco-me quando te sonho,
quando te recrio e te sinto
perto, tão perto, como a brisa
que me percorre e arrepia.
mas não me preocupo pois
por muito longe que estejas, estás

ponteiros desencontrados

acerto o tempo, que perdura,
com o pendular da memória
ao ritmo de uma força
que conquistou a história
com a força do passado.
deixa o nosso amor morrer
com essa força misteriosa,
ressuscita-o,
recria-o,
refaz-te nele,
replica-me contigo.
e se o mundo não for feito para nós
criaremos o nosso.
arderá no nosso fogo
e ressuscitará das chagas
assim como o amanhã
que amanhecerá em nós

inventa-me

escreve em mim,
como se fosse uma página
do teu diário.
deixa-me algumas páginas em branco
para que mais tarde possas escrever
ou reescrever - quem sabe?
desenha em mim,
como o mapa da tua memória
para que te saiba seguir,
compreender, respeitar,
e, quem sabe encontrar.
molda-me,
como ao barro que molhas
para dar as formas da tua alma
enquanto o fazes girar,
para ficar com aqueles pormenores
que escapam à vista
mas que estão lá,
assim como tu.

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