talvez esteja ali

espero pelo tempo que passa e
espero não ter de esperar muito...
mais.
espero e,
não sei se espero mais.
ai, ai, ai,
espero aqui,
não, vou esperar ali,
aiii,
talvez acolá.
ai, de tanto esperar
não sei se deixei por lá,
o que esperava encontrar

grito mudo

espero pelo momento
em que o grito surja do silêncio
para ouvir o som do silêncio a perder-se.
e tu aqui estás,
ao meu lado a delirar,
com a lucidez a desvanecer-se
enquanto a loucura paira no ar.
e como num comboio que foge
a velocidade é uma constante.
sim, o silêncio que ecoa do grito
parte para terra de ninguém
numa procura incessante
de algo mais para ver.
a loucura é uma abstracção do ser
e não me digas que não
porque quando menos esperares
ainda te pára o coração

criação

agora que penso nisso,
cogito numa forma
de pensar, trabalhar,
para que a obra nasça
sem advir apenas
da divina inspiração.
tento concentrar-me,
mas para quê mentir(-me)
a mim próprio!?
sei que não penso,
que não crio algo meditando.
apenas sai, flui e transborda,
como uma linha de tinta
que as letras contorna
e às palavras dá cor
deixando transparecer coisas,
como a luz, a cor, a dor
a tristeza, luxúria ou dissabor.
acontece, cresce, materializa-se,
e em pequenos esboços de palavras
julgo que crio algo,
com o qual nem sequer sonho.
sim, está tudo bem...
uns dias melhor, outros não tão bem

sentidos escondidos

dispo o silêncio que nos cobre
ao soltar um gemido tímido,
como que um grito de discórdia
que nos ecoa ao ouvido.
despes o meu olhar de estrelas
com o teu corpo inebriante,
enquanto ecoa na minha mente
o brilho duma estrela errante.
dispo o teu paladar
com o brilho do sabor,
com uma pitada de sal de mar
e o doce do amor.
e nesta panóplia de sentidos
aos quais outros se juntam
perco a palavras mudas
que se escondem dos ouvidos.

amar...

é estar perto, ainda que longe,
é estar, só pelo prazer de estar,
é abrir os olhos e sonhar,
é desafiar a lei da gravidade,
é desprender do céu e na terra aterrar,
é desafiar o convencional,
é ser poeta, guerreiro, louco,
é o que os outros dizem,
é ser muito, ou somente um pouco,
é isso mesmo,
é sentir borboletas no estômago,
é dizer o que sentimos,
é estar ébrio só por sentir amor,
é dizer nem sempre o que é bonito,
é chorar por nos sentirmos vivos.
amar é deixar voar até ao infinito
e sentir falta de um mimo