segunda-feira, novembro 27, 2006

(ob)ter

não tendo o que amo
há que amar o que tenho
porque é que te chamo
se o que tenho teu, é um desenho?

acho que depende do dia
não o que sinto ou faço
mas o que me fazes sentir
aquando de um abraço

não me consigo concentrar
não me consigo focar
não consigo sequer pensar
nem consigo cogitar

um berro para o que quer que seja
desisto do tudo que tenho
para que se perca no meio do nada

sei... lá

sinto-me ridículo
tenho um pouco do tudo
e o que me falta
é apenas e só o que me faria feliz!
não que seja importante ser feliz
não, é-me apenas fundamental
é como desabafar com o mundo
e o que quero saber
o mundo não me diz
apenas me dá uma ideia
do nada que pensa conhecer.
a primeira palavra, pensei-a
não a disse sem querer.
premeditada e bruta
como um diamante que jaz
deitado no leito de uma gruta
foi colhida, sinto-me ridículo
... assaz

disserto

disserto sobre o que mais odeio
que é o que mais desejo
digo-to sem medo ou receio
com um bonito harpejo

odeio o facto - não de estar só
odeio não estar contigo
pois sinto-me como pó
que não passa num postigo

sinto-me em febre a arder
ponho a mão no peito
e oiço o leve bater
de um coração desfeito

e enquanto ecoa
mesmo que ao de leve
o sorriso não se escoa
mesmo que seja breve

descreve-me

descreve-me com finos traços
de poesia, de fitas, ou de nada
descreve o que sentes
não o que se vê de madrugada
ou nas noites quentes
sorri enquanto o fazes
beija-me
como se fizéssemos as pazes
dancemos ao luar
até a lua nos acordar
e (re)lembrar que para viver
só temos de resplandecer
... e sonhar

sexta-feira, novembro 24, 2006

Quando for grande...

quando for grande QUERO ser...
quero mudar o mundo!
o dos outros, espero poder ABANAR
mas O meu, quero mudar
mudar!?
depende de cada um
pois cada qual é livre
de não tentar... mudar
cada qual é como é
e se é feliz assim
é livre de fazer NADA
e de, pelo menos,
não piorar a vida inanimada
QUE JAZ
num vão de escada
à espera de ser limpa
à vassourada
POR uma antítese eufemística
exacerbada
à beira de uma crise
de nada de especial...
... ou ESSENCIAL!

sábado, novembro 18, 2006

vingança


seja a vingança
o mais doce dos doces
fizeste-me pesar na balança
tais sentimentos precoces

não me vingo por vingança
mas por amor o fiz
mais uma vez a balança
pesou e me fez feliz

não quero ser vingativo
a não ser por saudade
se me dás um sorriso
eu retribuo com afabilidade

sento-me a pensar
que vingança sublime
uma lágrima de chorar
e um sorriso de rir

sexta-feira, novembro 17, 2006

(não) queria


queria ter asas,
e não queria voar
queria ter barbatanas,
e não queria nadar

queria ter pétalas,
e não queria ser flor
queria ter sonhos,
e não queria ser sonhador

queria ter frutos,
e não queria ser pomar
queria ter música,
e não queria ser o cantar

queria ter paz,
e não queria ser santo
queria-te - a ti - assaz,
e quero-te tanto

Apetecia-me

Apetecia-me gelado
Apetecia-me um beijo
Apetecia-me um abraço
Apetecia-me um poema
Apetecia-me uma estrofe
Apetecia-me uma rima
Apetecia-me uma frase
Apetecia-me uma palavra
Apetecia-me ir ao cinema
Apetecia-me passear na praia
Apetecia-me ouvir o vento
Apetecia-me sentir o mar nos pés
Apetecia-me criar
Apetecia-me voar
Apetecia-me mergulhar na vertigem
de ver-te acordar
Apetecia-me estar contigo :)
Fazes-me falta

apenas...

...um poema

disfruto do tempo desalmado
apreendo como que me sentido
um poema eternamente inacabado
doce, terno e adormecido

perenemente incapaz de criar
uma nova forma ou sabor
e ao sabor da luz do luar
me deito, em seu redor

e enquanto cubro a luz da luz
tapo-me de forma desconcertante
sinto-me como que nu numa cruz
que foi pregada por um errante

desatino sem suar uma lágrima
e no teu olhar vejo
uma gota que me lembra frescura
que estou vivo na tua doçura

procuro-te sem te ver
descubro-te sem te perder
encontro-te sob um véu
e quando te olho, estás no céu

como uma fada que se move no ar
não me deixas ver-te ao luar
desapareces não sei onde
será que foges, ou te escondes?

és um pequeno enigma
não entendo, mas acredito
que quero acreditar
pois se acreditar, espevito

e espevitado acredito em ti
que existes, és apenas assim
não te toco mas sinto-te aqui
onde estás? vives em mim

sábado, novembro 11, 2006

abeto

não é diferente
não é igual
não é idêntico
não é casual...

não quero dizer nada
quero sentir tudo
quero que se veja a fada
que quando choro aludo

deixei de querer
deixei de pensar
deixei de viver
parei de respirar

e assim a fada que invoquei
encobre o céu com azul aberto
como o sonho que sonhei
de dormir à sombra do abeto

porque sorrir é preciso

preciso escrever estórias
preciso vislumbrá-las
preciso senti-las
preciso contá-las

preciso escrever páginas
preciso criar folhas
preciso desenhar o sorriso
da tua face, quando as olhas

desenhar, mas (d)escrevendo
o teu olhar subtil
que se está escondendo
por trás de um sorriso pueril

definitivamente, amo o sorriso
amo a pessoa que sorri
amo por trás do improviso
quem ri e me faz sorrir

porque sorrir é preciso

quarta-feira, novembro 08, 2006

tela


cor, música, pensamentos
um cogumelo e uma clave de sol
um pincel, imaginação e sentimentos
que se desvendam, ao retirar o lençol

a cor confunde-se com ela própria
e esconde-se, presa por um atilho
que se ofusca pela estória
contada, por de trás do brilho

e mesmo inacabado
ficará a estória por contar?
o que contou, pode ser alterado
mas nunca poderá definhar

deixo uma pincelada sobre a tela
invisível mas profunda e sentida
sem saber o que se esconde sob ela
mas sentido a cor da tinta

terça-feira, novembro 07, 2006

desnecessariamente necessário

inacabado traço de poesia
pintado em alegoria
como uma doce sensaboria
de cardos e rosas, em orgia

não parece haver sentido
contudo o sentido, somos nós
nós que com o saber vivido
desenhamos através do algeroz

o que vemos, escondemos de nós
mas contamos aos outros, alegremente
que sofrimento atroz
nos infligimos, desnecessariamente

será tão desnecessário esconder?
para quê saber o que não se quer
já o sabemos, não precisamos mais
vamos esquecer, que vivemos em vitrais

”folha de papel” ou “traço inacabado”

falta-me a inspiração
como numa folha de papel
com uma inacabada ilustração
que de tão doce, sabe a fel

“escreve por amor de Deus”
frase mágica
como no caminho do adeus
com uma chegada trágica

e vejo a pairar a folha de papel
está diferente
o desenho completo, inimaginável,
e de certa forma, coerente

e assim acaba a viagem da folha ilusória
com seus sulcos de carvão
que anteriormente era provisória
e que jaz, parte da imaginação

inspirado em "nada" e com pózinhos de "coisa nenhuma", ou seja, inacabado... ou não

segunda-feira, novembro 06, 2006

tu, tu, tu... e tu, sem "eu"

és tu, sim tu!
quem és tu?
não interessa
interessa que existes
interessa que me fizeste pensar
no quê?
para quê?
onde? quando?
quais as contrapartidas?
não quero responder,
não porque não queira,
mas porque não descobri a reposta
conscientemente, não descobri
mas o id diz-me que sim
... ou talvez não

ao longe

oiço uma voz na noite
como uma luz ao fundo do corredor
como um empurrão, um açoite,
que me ajuda a viver com a dor

que cinismo, que vergonha,
de que estou para aqui a falar
se não sinto a tristeza tristonha
nem a alegria a jorrar?

incoerente? claro que sim.
qual a piada de seguir um caminho
que todos os outros percorreram
sem ter em mente um destino?

qual a vantagem de ter assim
um saber de experiências feito?
para que vos serve a marralhice?
e enquanto pensam,
eu mordo-me, como alguém disse

domingo, novembro 05, 2006

efémera

uma fresca e breve pincelada
uma aura de luminosa luminescência
uma vontade louca e obstinada
uma crença pura de incoerência

acreditando poder pintar-te
como o mais puro dos artistas
desafiando as regras da arte
sentindo-me um pré-sofista

olho-te de todas as formas
uso filtros de forma, cor e som
vejo a borboleta em que te tornas
ao pores um pouco de batom

crio novos contornos
cegos ao teu movimento
mas será que te vejo?
o que se passa neste momento?

agora

um tema recorrente
a escrita
porquê?
porque... não sei
porque não quero saber
não me apetece
ou apetece?
não vou pontuar.
não vou s-o-l-e-t-r-a-r
não vou GRITAR
não vou fazer nada
vou manter a boca calada
a mão fechada
cerrar o punho e bater na mesa
acordar e deixar o ataque
tentar uma nova defesa
definir uma estratégia
e pintar uma tragédia

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