sexta-feira, dezembro 29, 2006

de ti

fala-me de ti
da forma como quiseres
mente-me ou diz-me verdade
tanto me faz
deixa-me conhecer-te
mesmo que ilusoriamente
deixa-me que te ame
nem que seja pelo que pense
deixa-me sentado na vala
no silêncio a cogitar
deixa-me cair pela ponte
para não acordar do sonho
que não quis contar
para que se mantivesse real

imbróglio

nada, nada de nada,
nem que valesse alguma coisa
deixaria de ser nada!
e o que quer esse nada?
talvez nada!
pois para querer nada
é necessário conhecer alguma coisa.
talvez me perca
deambulando pelo nada
que acredito ser o tudo
que não se conhece
e a que chamamos futuro.
lógico? claro que não!
lógico seria estar calado
ou calarem-me
com um pedaço de pão...
será o tudo a fome do nada?
se soubesse, não indagava!

à espera de título

de sorriso bem alegre
de face sorridente
de pleonasmos breves
e sem saber do ocidente
que norteia o pensamento
que assume o sorrir como seu
que vê para além das estrelas
e que parte como quem morreu
procurando novos contornos seus
sem programar uma virgula ou ponto
sem saber porque sorri
sabendo apenas porque não chora
(per)corre o mundo inteiro
à espera que chova
uma qualquer gota molhada
que torne a pele menos seca
na abundância de sentimentos
efémeros, bonitos e inspiradores
como chamamentos

se, se, se...

se por amar, amei
se por falar, falei
se por dizer, disse
se por calar, amei
quem sabe se calasse
fosse o que não sou mais
não feliz, não triste, não nada
mas um pouco de tudo
que fui e se consumiu
em três gotas de mar
dois golos de ar
numa garrafa de amar
que mais não tinha
que amor para dar
e beber!

domingo, dezembro 24, 2006

frincha

despendo o tempo que tenho
não sei para que o apanho
quero sentir o que vejo
e o que vejo é o que revejo

pode parecer pura contradição
mas não é mais que pura adição
espero um dia chegar ao lugar
em que me predisponho descansar

não sei o porquê de querer
se mais não faço que requerer
peço permissão para sonhar
e nem um passo consigo sequer dar

desisto do caminho traçado
o que faço não está predestinado
descubro a força que vive em mim
e corro pelo mundo livre, sem fim

e agora...

e agora
deixando de falar do que sinto
e sentindo aquilo que falo
espero sentado o nascer do sol
nesta noite de natal
que pouco tem de diferente
de uma qualquer outra
passada com vontade de dormir
e sem nada que me acorde
sinto a luz e a lua que a emana
sinto o vinho que me trespassa as veias
as artérias e o cérebro
que me dá sonolência e inspiração
vã, etérea, efémera,
é apenas mais uma forma de sentir
com todos os sentidos
deixando a boca seca
como o querer de um beijo
misturado com uvas doces
para saborear o verdadeiro doce
o sabor dos teus lábios
que me deixam inebriado
e apaixonadamente acordado

o sorriso dos teus olhos

não é onde te queira levar
mas onde queiramos ir
eu queria nunca te magoar,
sempre te saber respeitar
e dessa forma aprender
a verdadeiramente conhecer
não o tu, mas tu que vive em mim
que me ajuda a crescer, sim.
que amo em ti?
e tu em mim?
as palavras, os beijos, as frases,
o toque da sua conjunção
no nosso coração?
estaria predestinado
encontrarmo-nos assim?
não sei, mas sou feliz!

pequeno

pequeno
como os mais concentrados
dos pequenos sonhos
que esperam acordados
por poder expandir-se em teus olhos

ensejo

será desejo?
apenas paixão?
será o ensejo
que espera o meu coração?
será? será? será?
acontecerá? sucederá?
valerá a pena esperar?
acordarei nos braços
que abrem o mar à sua passagem?
que abrem as portas do Éden
e me deixam a suspirar
por mais uma vez acordar
e ao seu lado, suspirar

mel

sentado,
olhando para o infinito
que vejo nos teus olhos
despidos perante mim
por entre duas fitas de cetim
que caiem pela cama
que esquecemos de desfazer.
quiçá, insensatos,
perdemo-nos por entre os montes
e sequiosos, bebemos das fontes
que alimentam nossos sonhos
e fazem de nós
um e um só

aonde?

sonho em tocar teus lábios de mel
saborear as tuas mãos melodiosas
sonho com doce que tiraste do fel
com as tuas festas criteriosas
sonho ouvir tua língua cantar na minha boca
e tua sombra aquecer meu coração
que adoça a minha pele louca
e sentir-te numa onda de paixão
exaspero com a lonjura
que minha alma excomunga
de sentir-te para além do horizonte
e de não saber para onde seguir
não encontrando a tua fonte...
só, mas com esperança
de que um dia
tenhamos uma última dança

sábado, dezembro 16, 2006

tu

não tento compreender-te
aliás, apenas espero conhecer-te
não no sentido físico,
mas mais no sentido artístico
passo a explicar-me por palavras
pois o sentimento é inverosímil
quero conhecer-te por trás das capas
que a distância vai criando
mas que nunca serão demais
para apertar o laço
que une uma amizade
e embora não rimando
ou uma ode sendo
espero que te vás acostumando
e na minha amizade crendo

dedicado a TU...!

fundo

sinto o passar do tempo
que não passa de todo
sinto-me como cimento
que se agarra ao lodo
que não para de se afundar
por mais que lute contra o mundo
sente-se constantemente a colar
levando-se até ao fundo
com o lodo a empurrar

e no meio da certeza
a natureza não é empírica
fico ou fujo em subtileza
mudando as leis da química
violando os acórdãos socráticos
de pedras, penas e jasmim
consolidados em retiros sabáticos
com estranhos a falarem de mim

ver e crer

subo a serra
olho o monte
deito mais terra
para construir uma ponte

cativo as ideias
para criar um horizonte
para ser ligado por veias
que percorram o monte

e se da serra se vê
o que do monte se sente
que viva eu à mercê
de um monte inocente

e se mais puder pensar
que me permitam sorrir
para aquele que vejo olhar
dos mares a emergir

procuro

procuro a verdade
como forma de sobriedade
para que consiga com tenacidade
viver com intensidade
nesta cidade
insana e sem piedade
que nos empurra para a realidade
a que somos sujeitos pela sociedade
sem dó nem saudade
ou outra veleidade
com total imparcialidade
e total desrespeito pela identidade

que almejo dizer
fazer, ou mesmo querer?
que outrem me poderá
fazer querer
resistir ao saber?
como poderei descobrir
o segredo que destapa
o olhar de Vénus
se não consigo sequer
ver dentro de mim?
como poderei poder
se me perco
ao tentar começar
o que já terminou?
como terei a coragem
para voar
se ainda nem
aprendi a gatinhar?

eu sei... acho eu

perco a chave que possuo
não sei como, e amuo
descrevo o local onde passo
como um encontro do acaso
e sem saber como ou os porquês
descubro que o que vês
é invisível e inverosímil
mas não por isso
menos belas e aprazíveis
como as luzes visíveis
numa rua da cidade
iluminada com saudade

patético ou poético?

fonética, fonemas,
poética e poemas
com prosa versada
apática e apaixonada
descrente e contente
enrolada numa manta
a ouvir quem canta
como quem liberta a alma
de paz, maresia e calma
com vontade louca e sã
de uma santa sapiência
que se aquece com lã
de modo a agradar à ciência
não suprindo os sentimentos
nem renegando os ensinamentos
históricos e apoteóticos
de uma estória de encantar
para o teu sono embalar

foi

sento-me no passado
não renego a verdade
de me sentir cansado
e com muita saudade

desço pelas colinas
em busca de outra luz
que mostre as maravilhas
que me fogem pelo capuz

e não sei que mais dizer
canso-me de o sentir
que não sei onde viver

quero acordar para descobrir
debaixo de uma pedra rolante
a sombra do sol a sorrir
por trás de um elefante

corta a estória

recordo os momentos passados
com a maresia à beira mar,
com o sabor de beijos salgados,
e um abraço ao mergulhar.
e um veleiro calmamente voga
com um cheiro a cedro doce
contrastando com o negro da toga
do juiz que nos olha de forma acre-doce
e sem pensar amo
não o mundo, a vida ou o sorrir
mas o momento que chamo
quando hoje for dormir

e...?

e se um dia a vida me deixar
no leito espero de forma vã
que o ontem que não é hoje
se torne no ontem de amanhã

preto ou branco?
dualidade ou unicidade?
morte ou vida?
mentira ou verdade?

desfilando palavras que
reconhecemos coerentes
desaparecem como se
ficassem - de súbito - dormentes

falando por entre dentes
de forma disléxica
aprendendo com o que sentes
como o dizer, de forma eclética

Deixámos de falar
Deixei de escrever
Deixaste de te preocupar
Comecei a sofrer

Deixei de saber
tocar o teu coração
Agora penso se
terás perdido a paixão

Deixei de ver fadas
ou sentir-me anjinho
Sinto-me um bebé com fraldas
a quem tiraram o ursinho

Só,
assim sinto a minha mão
que agarra o pó
que ficou o meu coração

de manhã

de manhã
sim, pela alvorada
trinco uma maçã
e beijo a tua face rosada

deito-me a teu lado
abraço-te
e a ti aninhado
retrato-te

relembro o teu eu
e também o eu teu
vejo-te mudar de posição
sem me largar a mão

redescubro os teus sinais
toco os teus traços
beijo os teus pontos vitais
enquanto dormes em meus braços

e enquanto, ali acordado, sonho
desperto para o dia que acaba
voo, com olhar risonho
nas tuas asas de fada

o início

vejo uma lágrima
seco-a com uma pétala de rosa
e uma gota cai como rima
que se esvai em prosa

será feitiço?
será basilar?
não será isso
o verbo amar?

será que uma fada
me encantou ao vogar
pela alma desencantada
que sonha em acordar?

o bater das asas em furor
acorda-me em sobressalto
apronto-me com esplendor
para o último assalto

FIM

odeio

odeio os teus olhos
porque me fazem sonhar
odeio os teus lábios
porque me levam a beijar

odeio o teu ser
porque me faz querer
odeio o teu corpo
porque me faz ceder

odeio a tua aura
porque me absorve
odeio a tua lágrima
porque me consome

odeio o tanto te odiar
porque me lembra
que não paro de te amar

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