sexta-feira, junho 30, 2006

“sorri” ou “só”


trouxeste-me inspiração
e para quê?
deixaste-me na solidão
sem um beijo ou um porquê

sinto-me sozinho aqui sentado
levanto-me, sento-me, volto a levantar-me
volto a pensar no fado
e no porquê de juntar
duas coisas de um só lado

esqueçamos o outro,
incompatível talvez
mas ainda assim, sensível,
é assim tão terrível
viver sem porquês?

e na sensibilidade com que escrevo
sem coragem para to dizer
espero por um trevo
para pedir a sorte de te ter

mas na espera definho
e na [tua] ausência morro,
prefiro morrer em teu caminho
e como tal, corro

mesmo que não te encontre,
o que é provável
viver latente, não obrigado
basta-me um sorriso agradável

ónus


se alguém se lembrar um dia que existi?
ou pior, se se lembrarem que existo?
não, não quero, desisti,
agora, não mais resisto

quero a paz d’alma
quero a alma a meditar
quero dedicar-me à loucura da calma
quero ver a vida a sonhar

quero escrever
quero rever
quero ver
quero viver
quero reviver

quero tudo e não quero nada
sou uma alma penada
triste e desajeitada
mas com vontade de voar para o nada

e onde quer que ele fique,
ou ela, não faço distinções
espero apenas que se aplique
o contrário da religião

crer por amor e não por medo
se errar, não caio no inferno
se acertar, não vou para o céu
e se morrer, que seja bom,
mesmo sendo réu

narcisismo


sinto-me estranhamente narcisista
ao olhar para os “meus” poemas,
pareço um saudosista
que sente o passado sob a métrica de fonemas
e se perde no futuro a cogitar
como dar à poesia um diadema
e descanso ao id, ego e superego
e porque não, ao alter-ego também
pois todos estes, vieram da mesma mãe
e é assim que estou, para além de sentado
numa poltrona de madeira rija
que mais não é que um trono improvisado
para um pequeno poema que muito que nada valha
foi um dia chamado à balha
e tem a seu favor estar escrito para [um] alguém
o ler um dia, mesmo que com desdém

toca-me


sou uma vítima, de mim próprio
tenho de aturar-me todo o santo dia
que karma tão impróprio
para uma tão fugaz vida sadia

é o meu ego auto consciente,
- que expressão bonita, ein!?
obrigado Leonor por esta ideia -
que me faz sentir coerente

que pantomina mímica,
sim, é um reforço da expressão
para exprimir a química
que bate no meu coração

toca-me [em todos] os sentidos
de uma forma bela e inocente
estou em caminhos perdidos
que vogam para uma semente

coronho


a minha alma está pintada
com as cores da tua
o meu sol precisa de uma toalha molhada
e da loucura da tua lua

este meu ego com dupla personalidade
onde já isto se viu?
pelo menos se peco, é pela originalidade
de um id com força de vontade

e o id mostra-se entre estes [meus] egos
tal como os heterónimos assim se manifestam,
não vale a pena fazerem-se de cegos
pois quando menos esperarem, acordam

e a vida é um constante acordar de um sonho
e outro e outro e outro... sequencialmente
não fazes ideia destes egos que parecem um coronho
que ideia mais demente...! realmente!

quinta-feira, junho 29, 2006

o que tu (des)fazes em mim


hoje não, hoje não
paz, por favor, paz
dêem-me descanso
vão para o raio que vos parta

não façam perguntas
por favor...
bem, pensar em ti
dá-me ânimo e calor

estou irado, não com o mundo
não contigo, não com ninguém
estou cansado sobretudo
por não me sentir alguém

esse alguém tem tantas variáveis
é altamente complexo, como eu
porque não serei eu mais fácil?
não sei que devaneio me deu!

que puro e absurdo
exercício de retórica
acho melhor voltar ao luto
de uma qualquer forma canónica

olá


fico aqui na escrita
não sei que mais escrever
deixo-me em prantos
no teus mágicos encantos

e tu que sentes o que escrevo
mas não digo contudo
expresso-me como um servo
escrevo, mas sou [como] mudo

no sentido [mais] lato, estou cansado
estou à [tua] espera, sentado
espero-te aqui, ali, acolá
e apenas anseio, pelo teu “olá”

por estranho que pareça
sinto que mais não podes dar
não que o que dês se desvaneça
mas eu, egoisticamente, quero mais

"encontra" ou "ar"


há coisas que não encontras
mesmo estando à tua frente
umas porque não as imaginas
outras porque, demais queres ver
e na intensidade do querer
acabas por esquecer
que o essencial é invisível aos olhos,
e o invisível, é inverosímil, é essencial
e o essencial, para viver, é sentir
sentir-me, sentir-te, sentir-nos,
apenas sentir
e enfim, sermos nós na nosso inocência
acreditar com paixão e veemência
e clamar a quem quiser ouvir, ou ler... ou sentir
que o importante é nunca desistir
pois se eu te encontrei, quem sabe
o que mais reservará o futuro
para mim, para ti, para nós,
mesmo que num uno, separados ou sós.
todo o ontem é o início de um amanhã que é hoje.
amanhã à mesma hora?

qualquer coisa que nasce não sei do quê


porque queremos ser aquilo que não somos?
algum desejo interno ou apenas narcisismo?
almejar a ser algo que não fomos,
poderá, porventura, ser um acto de cinismo?

serei então eu narcísico, obrigado, agradeço
não sou perfeito, nem para lá caminho
para onde vou? desconheço
o que sei, partilho e levo comigo

espreguiço-me, relaxo, contemplo uma imagem
real ou virtual? pouco importa
importante é saber o quão improvável é
que uma alma acabe morta

vem, senta-te à minha beira
ensina-me, não à minha maneira
deixa-me aprender, banhar-me sedento
nessa [tua] cascata de conhecimento

pareces uma barragem, torpe
os teus olhos ensinam[-me], mas a voz é muda
por mais que me esforce, pareço uma missiva num envelope
minha letra [é] muda, minha voz [para ti] é surda

imiscuir


não me conheço
não me reconheço
tanto há a dizer
e eu desapareço

vou-me auto consumir
auto conscientemente,
vou-me imiscuir
clandestinamente

que contra-senso de palavras,
pior, de actos e sentimentos
todos temos chagas
que nos deixam em tormentos

a poesia não se esconde em si própria
tem vida, tem o ritmo que aspiramos
a poesia pode ser um exercício de oratória
pode ser a vida que enxergamos
a poesia esconde-se em ti própria

que ode magnânime, sim - ou não!
que presunção mais desconcertante
que forma disforme de emoção
brilhante, etérea, [di]amante

quarta-feira, junho 28, 2006

em ti


sou eu, sou tu, sou tantas pessoas
não todas, mas aquelas que são importantes,
pelo menos para mim,
gostava de ter ainda mais de ti,
embora não te conheça,
queria...
mais de tantas pessoas
umas conheço, outras não,
umas estão por aí
outras no coração
contudo, continuo aqui
com sede, fome, amor
quero sentir o clamor
quero crescer em harmonia
como uma criança em sintonia
com um boneco de papel
a sorrir de alegria
a dar mais cor ao arco-íris
e a olhar para o infinito
a ver uma bola de sabão
enquanto sopra num dente-de-leão
a descobrir as pequenas sementes
que germinam os seus sonhos
e tornam os nossos mais risonhos

tu, apenas tu


sinto a cabeça dormente
devaneios, ensejos, anseios,
como um homem que sente
e se encosta em teus seios

mesmo no dia de maior dilúvio
há sempre um arco-íris no outro lado,
hoje, como que, rebentou o Vesúvio
mas deixou-me a teus pés, prostrado

e em tantas lágrimas pela alma derramadas
e com os sons do teu coração
agarro a alma apaixonada
e procuro-te em ilusão

porque há coisas que não se explicam
e eu, também, não quero encontrar explicações
á que as palavras, por vezes, complicam
as verdadeiras emoções

tu, que apareceste do nada
a caminho não sei donde
e no meio da rajada
me deste um novo nome

castelos


castelos flutuantes construídos nos céus
castelos para lá de onde a vista alcança
que se revelam por entre as nuvens da esperança
contornando-as como ilhéus

para quê procurar em Marte vida
se aqui, tão longe... e tão perto
há vida à espera de - poder - ser vivida
e tudo pareceria tão certo

para quê a descoberta do Universo
se ainda não conhecemos o quintal dos vizinhos
nem o nosso próprio, decerto
falta-nos descobrir o nosso íntimo, sozinhos

e com a pressa da descoberta
e com nobres ideais
uma coisa é certa
para último, ficam os nosso quintais

segunda-feira, junho 26, 2006

inconscientemente consciente


chamam-me mas...
não sei meu nome
quero comer
mas não tenho fome

quero beber
e tenho muita sede
quero saltar
e não tenho rede

quero voar
mas não tenho asas
quero chorar
mas não tenho lágrimas

quero nada
não, tenho tudo
se quero é porque não tenho
um contra-senso, contudo!

de ti


lembro-me do sol
lembro-me de ti
lembro-me do farol
lembro-me de ti

vejo o mar
vejo-te a ti
vejo o luar
vejo-te a ti

sinto o deslumbre
sinto-te a ti
sinto um vislumbre
sinto-te a ti

disfruto da suadade
disfruto de ti
disfruto da voz
disfruto de vós

sábado, junho 24, 2006

10 união


a família junta, é uma raridade
a minha que dantes era una
agora morre em saudade
parecendo uma urna

as ligações perdem-se
os laços desatam-se
o sonho desvanece-se
e a família reparte-se

velhos e novinhos
novos e velhinhos
crescem com o tempo
os sinais do sentimento

desaparecem todos
uns e outros se revoltam
não sei onde param os poucos
que ainda não sabem se voltam

e os que crescem novos
dão uma nova vida à vida
mas ninguém subsiste aos cromos
que foram de partida

quinta-feira, junho 22, 2006

ao meu avô

parabéns meu avô,
faz hoje 82 anos
mas não pode ter a vida que sonhou
é triste, convenhamos

não queria declamar tristemente
pois quando o relembro, sorrio,
queria vê-lo pescar alegremente
numa qualquer praia, ou junto ao rio

o seu saber é como uma fonte,
não pelo saber pôr a minhoca no anzol,
ou lançar a cana para o horizonte,
queria dizer a todos, que é um farol

“e nestes versos pequeninos”
o plagio sem maldade
pois sei que nos seus versinhos
reinam a fantasia, a alegria e a saudade

ao meu avozinho, sem mais delongas

quarta-feira, junho 21, 2006

"a" ou "vós"


respeito-vos
respeito o vosso conhecimento
almejo o vosso sentido de oferenda
que ofertam com sentimento

a vossa partilha para comigo é divina
sinto-me integrar algo maior
obrigado por esta sina
de vos ter como mentor[es]

são uma referência,
são uma directriz,
são alunos e professores,
são amigos,
são colegas,
são atentos,
são prestáveis,
são uns bacanos,
são adoráveis,
são uma inspiração,
é isto e muito mais,
aquilo que vocês são

há pessoas que nos marcam e nunca se apercebem disso.
este é dedicado a todos os Obi Wan que passaram na vida do Padawan... e os que ainda hão-de passar

raiz


vejo, sossegadamente
as raízes das árvores a crescer
tão ordenadamente
que parecem estar a renascer
com calma, movimentos lentos e ágeis
com uma profundidade notável,
nem parecem ser frágeis
no meio da sua forma afável
do seu interessante desinteresse
da sua regularidade irregular
da sua fugacidade
do seu saber secular
como um candeeiro na cidade,
assentem aos pássaros poisar,
iluminam os que passam,
com o odor do pomar,
com a saudade de casa,
com o rememorar da criança
e o renascer da esperança

domingo, junho 18, 2006

"a" ou "dubai"


gostar ou não gostar
querer ou não querer
ter a coragem ou se acobardar
ser livre ou padecer

nada de novo
num velho novo mundo
uma quimera de gozo
como um óvulo que fecundo

nascer, crescer, fecundar,
viver depois de morrer em paixão
morrer, germinar, acordar,
o verdadeiro sentido de ressurreição

nem só com vinagre, se apanham moscas
o mesmo é válido para as gentes
que por muito que sejam toscas
servirão para adubar rabanetes

sábado, junho 17, 2006

nonsense


call me what you will
see me as you see you
I can't wait still
I want you to be true

be true to you
I don't care about me
please just get out of the blue
that you've been sinking

wake up, smell the coffee
don't fall, please
life loves you
strong and easy

I'm going gone
I'm staying whenever you need
please don't get hurt
or I will start bleed

shhhh


que silêncio de morte
não, não me vou matar em silêncio
nem em silêncio irei morrer
vou apenas dormitar num compêndio

eheheh, não me parece parecido com nada
nem sequer queria rimar
quero apenas uma alma amada
para saber para onde me virar

que estranho estar a escrever
escrever sob o efeito do vinho branco
não que tenha de descrever
o efeito de uma pessoa contra um barranco

que raio de coisa para se expôr
nem sei como me explicar
vou mas é cair em soror
e ficar a meditar

explorar


novas formas de explorar
novas formas de aprender
novas formas de implantar
novas formas de crescer

acredito que é preciso sonhar,
que o sonho nasce da necessidade
é preciso precisar
é preciso acreditar

é preciso querer além de sonhar
pois o sonho comanda a vida
mas o querer leva-nos a trabalhar
e a vida leva-nos a cantar

sentado a ouvir o som
do salto para o infinito
como que o rasgar de um tom
que se ouve indistinto

tempo


procuro inspirar-me, mas em quê?
procuro inumar-me em Tágides,
em ideias... e porquê?
porque a inércia morde como áspides

talvez procure por entre jumentos
algures hei-de encontrar uma estória
talvez nestes inusitados pensamentos
algo sobressaia da escória

não tenho tempo, prazo,
não sou algo que do tempo urja,
não tenho pressa para o acaso
aquando do ocaso serei o que dele surja

calamitosamente disléxico
procuro uma forma de expressão
não consigo transmitir o léxico
vou usar o coração

“ésse em som”


ssssssssssss
lê-se ésseeeeeeeeeee
ou seeeeeeeeeeeeeee [?]
depende da personalidade de cada qual
presumo
é um pouco como o copo
meio cheio, ou meio vazio
mas a minha intenção é mostrar
que a perspectiva é um pavio,
pode ter ardido e não mais se encontrar[!]
não acredito no que escrevo
deve ser a hora do degredo
nem sei o que está escrito
vou deitar-me em segredo

inCENSO


cadastrado?
ah ah ah
livre, desencontrado,
solto, leve,
e apaixonado

estando apaixonado, a liberdade é reduzida
a fruição para ser maximizada
tem de causar a perda
mas a beleza aí reside
no facto de ceder e (re)ver novas perspectivas
de encontro ao crescimento
que a liberdade total nos coíbe

sem certezas, rumos ou ideias
bem, ideias tenho, ou não me expressaria
é como que ver Eneias
lutar contra Golias
[eu sei que é David]
mas o importante são a novas ideias
que criam, no pensamento, sinergias

sons


poderia dizer que sim - a quê?
à primeira vista faria sentido - o quê?
pois tudo é uma questão de perspectiva - onde?
e se forem anos de vida?
não sei, não me percebo
não me encontro, estou placebo,
penso que terei melhor perspectiva - de onde?
não sei, acredito mesmo que não sei - não fazes sentido!
o que sei é que mais facilmente - o quêêê?
se desiste do que se luta afincadamente – ah ah, respostas
buhhhhhhhhhhhhh
lahhhhhhhhhhhhh
xaaaaaaaaaaaaaa
bolacha!?
não faz sentido
e o que fará sentido na poesia?
os sons, cruzados, interpolados,
brancos, emparelhados?
viva a pesca
pelo menos vêm linguados

10 provido


pronto, aqui estou, cheguei,
ancorei, amarei, aterrei,
deixei transporte em sítio incerto
para poder ficar mais perto

perto de ti que não [me] chamas
perto de ti que não [me] amas
perto de mim, pois só assim
conseguirei descanso eterno para mim

etéreo sublimar do sentir
povoando as ruas dos Paços da Alma
os do Concelho, deixaram-nos a sorrir
e a minha alma perdeu a calamitosa calma

sei que sabes que sei
sabendo o que sei saber
saberás tu saborear
o que saboreio sem [te] dizer

nódoa


porque pensar é preciso
procuro novas formas de expressão
e eu acho que já regurgitei algo indeciso
saiu por imprecisão

tenho a necessidade de dizer
por palavras, actos, omissões,
por minha culpa, pequei sem saber
a consequência das decisões

inconscientemente sabia que o saber
sabia que o sábio saber
sabiamente sabe que soube
que por mais que soubesse, nunca pôde

não pôde porque foi humilde, acreditando que o elevassem
não por extravagância ou auto-promoção
mas porque dele [interiormente] necessitassem
como uma nódoa de sabão

sublevação


sedição
insurreição
rebelião
insubordinação

paixão
flama
fervor
ardor

começo com amar
ponho o pé em verde rama
chego à Mara
e acabo com uma arma

estranhas dissimulações da realidade
contudo, a poesia é escrita por loucos
perfeitos membros da [vossa] insana sociedade
e não pensem que [vocês] são poucos

“livre” ou “expressão”


a
G
a
X
o
-
M
e

e
M
-
o
V
e
L
e

SeNTo
-Me
-Me
LeVaNTo

acredito
N Ã O !

mUdO

acredito
S I M !

De[Le]ItO
-ME
O
H
N
O
S

dige... disge... arghhh, dislex...ia


expressando o que não digo
através do que quero dizer
encontro[-me] perdido
num mundo cego de saber

e não me conformo
com a dislexia frustrante
que faz um cego contorno
ao seu próprio semblante

será que o ver está para a visão
como o sentir está para a mente
ou será que o que vejo é ilusão
e o que sinto é demente?

corro, para onde? para quê?
não sei, vou sem destino
indistinto e disforme. porquê?
não sei, não sei, não sei!!!

parem-no


na vida tudo passa
é inerente ao tempo
tal como a ressaca
que sinto como um remendo

se soubesse ler
gostaria de escrever
se não escrevesse
gostaria de saber ler

contendo a ânsia flamejante
sinto o porte do medo
como uma lança lancinante
em minha alma morrendo

saindo deste mundo...
[parem-no] quero sair
[parem-no] num segundo
[parem-no] para eu sorrir

“profunda” ou “mente”


se estivesse aqui
falaria comigo
se estivesse aí
falaria contigo

se tivesse muito
quereria pouco,
quereria menos
se não estivesse louco

sonharia com tudo
se pudesse sonhar,
sonharia com nada
não podendo imaginar

se não estivesse [profundamente] farto
estaria a rir
como estou
basta-me sorrir

torpe

deambulando pelas ruas
da cidade capital
encontro as charruas
a vaguear pela marginal

sinto uma nostalgia
percorrendo o meu corpo
e a disseminada letargia
atravessa-me como um morto

compreendo enfim
este saber inato
que me faz dizer que sim
para não parecer um chato

nem sei que fazer, ou dizer
sei que no seio do nada augura
o tudo que está a jazer
pois no nada desagua

dois mundos


finalmente aconteceu, sucedeu,
colidiram dois mundos!
será que algum ardeu?
durou quantas horas!? minutos!? segundos!?

o mundo do socialmente correcto
chocou com o mundo do politicamente incorrecto
e o que está certo como a incerteza
permanece incerto de certeza

manifestações, confusões, explosões,
um mundo de erupções e trapalhões
esperando que as fissuras não rebentem
e que as represas aguentem

do outro lado reina a coerência,
a frontalidade e verdade
e que com muita inocência
vai acabar como a outra sociedade

desprovida, despida,
com lacunas e varizes,
tal com a vida volvida
envolvida em matrizes

quinta-feira, junho 15, 2006

descuidado

qual a diferença de um ano numa vida?
qual a diferença de uma vida num ano?
para quê uma festa de despedida
quando no fundo, só passou um ano?

“hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”
é o dia, apenas o dia, mais um
ontem acabou, não volta, foi de partida
abalou em direcção a ponto algum
hoje é apenas mais uma estação pintada a pincéis
uma paragem dum comboio de corda
ter 26 é ter 25 +1 ou apenas 10+16?
destino? não acredito!
penso e repenso hoje
em mais uma forma de pensar
não será a vadiagem uma forma de me expressar?
[na poesia , ou mesmo prosa, ou pintura]
sinto-me um pouco agostiniano
não como santo, sagrado ou profano,
sinto-me como Agostinho da Silva
a viver um pouco as suas profecias
pois a liberdade começa pela informação
ou daí, talvez não!
no entanto, pouco importa
certo certo, é que vou embora... sem demora
de encontro a mais um ano, sinto
sagrado!? por mim, pode ser tinto...
[e dois pastelinhos de bacalhau]

retrospectiva de uns 26 aninhos concluidos a 15 de Junho...

terça-feira, junho 13, 2006

arte

num breve pincelada
pinto uma face contornada
por leves traços de poesia enlaçada
com pozinhos de prosa entornada

o sol cai e a pintura, prosa e poesia
misturam-se nas letras com a tinta
desaparecem as diferenças com mestria
pois a arte não se perde, desde que se sinta

tirando uma letra à tinta
perde-se o sentido inconsciente
tirando a tinta à letra
perde-se o que a torna a ideia consistente

qual o sentido de ter as coisas separadas
se na vertigem da união
as sinergias aparecem agregadas
como que em plena comunhão?

“sublime” ou “idade”

deixo a poesia - por um momento
dedico-me à prosa - por um instante
sinto na maresia - um sentimento
a paixão saborosa - ofegante

sinto-te - tão perto
contudo - tão distante
consinto-te - é certo
tudo - é intrigante

deixo-me no ar - a voar
cair para o mar - e novamente
ergo-me e voo - para nada
caio e morro - pacificamente

chego - vejo o destino
enganado - não o meu
encontro um rechego - é do vizinho
transtornado - como eu

modorra


desconheço-me nesta insensatez
que a sociedade impõe
enriquece pelo que se desfez
arruína pelo que se compõe

encontramos o nosso consolo
nos males dos outros,
vivemos em constate assolo
parecemos loucos

insipidamente penso
que pensar dispenso,
viver em agonia
ou viver em letargia?

e assim se perdem a forma e conteúdo
de um qualquer pensamento autodidacta
vou virar cego, surdo e mudo
porque o mundo está moribundo, há longa data

domingo, junho 11, 2006

a importância

seus
céus
são
sãos
sem
cem
adeus
a deus

a importância de

a importância de uma palavra
não estou nada bem!
estou nada bem!
nada bem!
bem!

a importância de uma letra
adeus
deus
eus
eu
e

a importância de um espaço
adeus
a deus

a importância da direcção
socorram
marrocos

a importância de um acento
contem
contém
contêm

a importância de um ponto
não, pára
não pára
não pára!
não pára?

a importância da ordem
amor
mora
ramo
armo

a importância do sentido
cara – querida
cara – face
cara - ousada
cara – dispendiosa

“nu” ou “um”


perdido num segundo... andar
de uma quinta... feira
passeio num quarto... de hora
e olho a casa... de banho

estranha a associação
mas a mim parece-me real
qual das duas em questão
será menos banal?

tudo me parece estranho
contudo, o não é,
vejo o dianho
a dar um tiro no pé!

graças a Deus,
que me sinto a sentir
vou dizer adeus
e parar de me imiscuir

"sim" ou "tu"


descrevo o sonho inimaginado
como o natural caminho do fado
concebo o seu trilho por um atalho...
sinto-me a gelar, tragam-me um agasalho

nem sei o que sinto,
como o poderei descrever?
fica a sinceridade, não minto
fico à espera de me conhecer

palavras tolas e vãs
palavras exacerbadas e sãs
palavras, apenas palavras
na palavra começa, na palavra acaba

desprendo-me aos poucos dos céus
desvaneço profundamente em seus véus
suas nuvens cabisbaixas me lavam a alma
seus ventos temperados me transmitem calma

quarta-feira, junho 07, 2006

cara

cara cara cara
não sei que te dizer
por favor para
não me estou a conhecer

não me importo com o que pensas
ou sequer com o que digas
quero que penses como quando te cansas
de falar mal das amigas

que um raio no rio surja
e que tua mente evapore
que faças como a coruja
e voes em direcção ao norte

e agora te despeço
sim, a ti e não a mim
sabes que mais? espero
que um dia cresças e voes sem fim

“com” ou “sorte”

não sei o que vou escrever
mas por algum lado hei-de começar
escrever só para sentir saber
que não estou a vegetar

escrevo como quem canta
pois se quem canta seus males espanta
quem beija, a vida anseia
e quem dança, a moral levanta

quem escreve, vive
como numa tempestade, vive a gotejar
nas suas palavras mais tarde revive
o que não quis dizer mas deixou soluçar

serão essas palavras verdade
ou serão mentira apenas?
num momento farão sentido, seriedade
noutro serão uma antítese, vontade
num momento são a sua vida, pequenas
noutros são sabe-se lá o quê, apenas
noutras são o mote,
noutras, não a morte, mas a sorte
de um qualquer consorte

inércia


parado
cansado
latente
deprimente

escrevendo
contendo
espirituosamente
alegremente

resplandecente
hermeticamente
contido
sorrindo

fico
paro
calo
soluço

"de" ou "pende"

dependo do quê?
do trabalho? decerto.
da vida? porquê!?
de ti? incerto

dependerá de se sinto?
dependerá do que sinta?
dependerá do que não sinto?
dependerá da minha sina?

e se o destino está traçado,
para que me preocupar?
é a irracionalidade de um legado
que procura onde chegar

não sei como terminar
o que escrever nestas linhas
desapareço a declamar
e a exprimir-me nas entrelinhas

oiço

oiço uma voz monocórdica
igual todos os dias
como uma gravação insólita
de uma doce sensaboria

sinto que nada sente
que o seu perfume se foi
a sua aura ausente
relembra o que lhe dói

que maneira de sentir
que não tem forma ou espectro?
é como a maneira de sorrir
que sorri pelo incerto

e a sorrir se despede
mesmo que imperceptivelmente
e regressa mais adiante
com o seu sorriso, amavelmente

depende

dependo do quê?
do trabalho? decerto.
da vida? porquê!?
de ti? incerto

dependerá de se sinto?
dependerá do que sinta?
dependerá do que não sinto?
dependerá da minha sina?

e se o destino está traçado,
para que me preocupar?
é a irracionalidade de um legado
que procura onde chegar

não sei como terminar
o que escrever nestas linhas
desapareço a declamar
e a exprimir-me nas entrelinhas

prefiro


prefiro sorrir a sonhar
prefiro sonhar a viver
prefiro viver a chorar
prefiro chorar a morrer

enfim, prefiro sorrir a morrer
e se para sorrir tenho de viver
viva a vida
e o seu doce sabor a sorriso

se tenho problemas
é apenas porque respiro
e esses dilemas
curam-se no último suspiro

"tens 5 minutos para chegar"
e mais nada? café? torrada?
bem, por este andar,
sou uma pessoa bem mandada

consegues?

consegues ouvir-me enquanto falas?
consegues ver-me quando me olhas?
consegues acreditar porque eu acredito?
consegues pensar em mim, sem esperar nada em troca?
consegues sentir o que sinto?
consegues ver-me dormir sem me acordar?
consegues ver um filme sem pensar em mim?
consegues desfrutar de um prazer sem o partilhares comigo?
consegues fazer-me algo sem que esperar retorno?
consegues estar comigo sem estar com todos os outros?
conseguirei deixar de ser ingénuo?

na verdade da mentira apenas entendo
que o meu coração está certo
na mentira da verdade apenas compreendo
que o meu coração está um deserto

na frágil leveza da simplicidade
conquistaste o meu forte
invadiste-o e destruíste a cidade
... que tristeza de sorte

um vórtice apanha tudo o que pode
deixa apenas um vasto nada e mal
escapo quase ileso enquanto tudo explode
e nem me mexo, esperando que me seja fatal

olho, vejo, paro, caio, desisto,
existo, levanto-me, corro, cego,
experiencio, constato, sinto, vivo,
morro, ressuscito e berro

não estou aqui
não estou em mim
sou um pedaço de nada
sou um pedaço de uma lembrança
alguém me esqueceu
não se lembra, que um dia... foi “eu”

mudo e consolo-me dizendo que foi para melhor
consciente de que é um mecanismo de defesa do ego
quero acreditar que nesta mudança com muito ardor
nasci, cresci e ainda não morri ...

domingo, junho 04, 2006

tu

sinto-me impotente,
e por uma vez, não por mim
por ti, sim
permanentemente

não me sinto aqui
sinto que estou aí
pertinho do teu id, ego,
sinto que estou cego

não consigo ver
apenas estou a sentir
leio o que escreves
e só quero fugir

parece-me que sinto
que sinto o teu eu
sinto que me firo
quando te feres pelos outros

esta merda não rima
mas como anteriormente
a vida nem sempre rima
nem acaba alegremente

quinta-feira, junho 01, 2006

odeio-te

odeio-te,
ou será que te amo?
não sei
mas porque será que te chamo?

explica algo o chamar-te
cada vez que acordo?
não sei se esperar-te
será o melhor modo!

penso que sem o dizer
muito já o disse,
se algum dia me leres
sente bem o que

agora percebo que entrei no local errado
fiz um exame fora de tempo
tudo está descontextualizado
vou é aproveitar o momento

de novo errado e com cheiro a pó
mas tal não quer dizer que esteja só,
pareço um cão velho autodidacta
com novos truques, em cada pata

esta é uma compilação de momentos,
momentos inacabados
pois, nem tudo na vida se termina
nem a vida sempre rima

amor, desejo, paixão,
sentidos do coração
num devaneio de sentidos
quando todos estão mentindo

e nada aqui me espera
nada me faz abalar
nada me faz rir
nada me faz ficar

criança

na cabeça de uma criança
me sento neste momento
que não tem qualquer desconfiança
de confiar no tempo

e o tempo é generoso
paciente e orgulhoso
no tempo que anoitece e amanhece
a criança vitoriosamente cresce

cresce de encontro ao infinito
de encontro ao sonho
a correr atrás do destino
que corre risonho

e a criança diz generosamente
"ofereço-te a minha casa até Quarta,
a minha amizade até sempre
o meu ombro quando tiveres uma lágrima"

"sente" ou "ir"

tento no tormento
sentir o que não sinto
sinto que num momento
em tudo o que sou, minto

sinto o querer em mim
sinto o esvair do eu
sinto uma presa de marfim
a perfurar o sonho meu

penso que quero sentir
sinto que quero pensar
penso que estou a sonhar
sonho que estou a dormir

e a ignorância lata
de uma lata ferrugenta
não será mais sapiente
que aquilo que me alimenta?

"inipi"

limpando o espírito do corpo
e o corpo do vício
abrindo os chakras de novo
em direcção ao princípio

e no princípio nos revemos
de formas inimagináveis
e quanto mais nos antevemos
mais nos sentimos frágeis

renascer, recordar, rememorar
criar, crescer, apreender
apenas necessitamos de acordar
para recomeçar a viver

e recomeçando do fim
partimos para o princípio
e o que no fim foi assim
no princípio será um precipício

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