terça-feira, janeiro 20, 2009

valha o que valer

não escrevo um poema de amor,
aliás, não sei o que escrevo
pois não quero transmitir a dor
nas emoções que descrevo.
não é sequer um poema
pois as palavras que descrevem
não se prendem por uma algema,
e contudo não se perdem.
as palavras que nada dizem
estão aqui, assim como eu,
e naquilo que omitem
está tudo o que é teu:
a tua... o teu...
o nosso mundo que desabou
e que das cinzas não desabrochou
como seria suposto esperarmos.
Adeus é muito forte,
até mais, até breve, até um dia...
até um dia em que sintamos a alegria
do reencontro e deixemos de sentir
esta enorme e até lá eterna apatia

a nós, aos que gostam de nós, e o resto...

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domingo, janeiro 18, 2009

as avós e o tempo

não ligo o gás, nem a luz para ver tv.
não tenho com quem falar.
para quê gastar luz se ninguém me vê?
não tenho o que fazer, não tenho sonhar
vou para cama e deito-me a pensar.
penso naqueles que perdi,
naqueles que me são queridos,
naqueles que nunca vi
e naqueles que estão perdidos
em mim, e não sei porquê...
sei, porque estou só
e assim me sinto porque quero sentir.
quero sentir o pedaço de pó
que me faz sentir mulher
cada vez que relembro
que um dia lá chegarei
e para isso rezarei
porque a solidão do momento
já dura há muito tempo

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sábado, janeiro 17, 2009

o mundo visto por uma lágrima

uma lágrima que cai
num oceano de outras mais,
e o dia que sobe e cai,
com estrofes em rima branca,
que destoam das demais
por serem elas próprias
conquistas delas mesmas.
deixa de fazer sentido
o purismo da exactidão,
a rima emparelhada.
viva a rima morta,
que rima consigo própria
e que apenas conta
o que na alma vagueia
sem pompa ou circunstância
e sem ter de se preocupar
se rima ou faz rimar.
estou assim, estou como estou,
não me prendo por ideias,
e não concebo que coisas feias
não tenham o seu lugar no mundo,
porque o mundo é mesmo assim,
feito para eles, para ti e para mim

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duas janelas

separados pelo tempo que desconheço saber contar
sinto o teu toque ao longe, qual vã pena que cai
para me contar sobre o adeus longínquo
que lá vai, lá vai.
sopro, num tom mudo e incolor, indolor
com uma tonalidade muito própria
do invisível olhar mudo que cai
como a noite que já lá vai
depois do sol se pôr.
sinto a falta, mas não sei como to dizer.
tudo parece ter mudado, assim como a mudança
que nos mudou e fez pôr a esperança
e nascer uma outra coisa qualquer.
fazes-me falta, assim como o sonho,
e como a alegria que cai, como gotas
de uma chuva que molha e faz sorrir,
ou como os flocos de neve
que com o frio nos fazem juntar,
bem juntinho, numa lareira ao luar

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teu

na vã luz que trespassa o céu,
iluminando os poucos presentes
a deleitarem-se, sentados, no ateneu,
ouvindo os céus murmurando entre dentes
como trovões a balbuciar
e encharcando os presentes no lupanar,
declamo para a ausente plateia
que com o seu olhar taciturno me premeia:
não que sejas o meu sol,
tampouco sejas a minha lua,
apenas sem ti o sol não brilha,
a lua não cobre a cidade
e a estrela não cintila.
és a minha assembleia, a minha crítica,
minha musa, minha amiga, minha amante e
meu constante desacerto com a realidade,
pois não pareces mais minha como o eras
antes desta infeliz certeza:
amanhã é domingo no mundo
e posso afirmar com firmeza
que aqui não será diferente

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desacerto

não há aquilo que dizemos
ser o essencial para nos perdermos
um no outro e o outro no um.
se pensamos que um do outro dependemos
encontramos maneiras de o contradizer
e por muito que o tempo ajude
a distância não ajuda o tempo que passa.
vamos... ficamos.
fui apanhado a tentar roubar o teu coração
porque o meu coração pedia o teu
em toda a sua necessidade de se sentir
tão meu quanto eu de me sentir teu,
mas a distância que nos une
é menos forte que a união que nos desune.
dá-me a tua mão e vamos ser felizes
o que quer que isso seja

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quinta-feira, janeiro 15, 2009

ensaio sobre a ausência de vida

a vida conduz, invariavelmente,
à morte do ser que a contém!
penso neste paradigma:
será esta consciencialização
de certa forma um enigma?
questiono-me sobre tal.
as pessoas não acreditam
- apenas creio -
que por mais que vivam
é-lhe imposto um freio
e não há como controlá-lo,
embora julguem(os) dominá-lo.
é uma forma diferente de pensar,
que a morte apenas não acontece,
apenas existe e caminhamos para ela
de passos curtos a uns mais largos,
consoante o tempo passa,
e nem ficando mais velho e cansado,
os passo deixam de aumentar.
os pés podem deixar de nos locomover
mas o caminho que temos a percorrer
um dia há-de acabar

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a carta

o sentido de não saber
o que não se quer saber
é talvez o sentido que tem
saber o que queremos, e bem.
tomo-me como um comprimido.
aturo-me três vezes ao dia,
e com um copo de água,
que é para não custar tanto.
é de bom trato tratar-me,
seja de que forma for,
mas de melhor trato seria
deixar-me a descansar eternamente
para ver se a alma não sofria.
a lua já vai alta
e tal me relembra
que sinto a tua falta.
despeço-me, como numa missiva
"cordialmente"
e a assino no fim,
para ser mais pessoal
"eu"
tenho, tenho...
qualquer coisa no olho
que me faz chorar.
P.S.
talvez agradecer
não seja de mau tom

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sufoco

palavras reservadas
que ficam no silêncio
para serem faladas
num momento de emoção.
os gestos que falam
não transmitem as palavras
para quem não as pode ver,
tocar, sentir, cheirar,
apenas as podendo ouvir.
as palavras, que tratadas,
docemente, saem a sibilar,
tocando os ouvidos e subindo
à alma de quem as quer tocar

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quarta-feira, janeiro 14, 2009

em segredo

e no silêncio do vazio
descubro o nada que se espalha
por entre o ser sombrio
que me conduz por uma calha
em direcção a um rio,
que como o mar d'água que é
tem todos os seus sabores,
histórias, tragédias e horrores,
e algumas outras coisas que
- para o caso - não fazem sentido.
não sei onde me conduz o rio,
não sei porque a sua água doce
que sacia a sede dos outros
não sacia a sede em mim.
tenho uma voz que me chama,
uma canção que por lá cresce,
uma história para contar
mas o tédio cansa e aborrece.
vou remeter-me ao sossego
para a história não se conte
e em mim acabe em segredo

dúvida in consciente

a temática que escolhi
para falar de mim
mais não é mais
que um sonho que perdi.
não sei do que falo,
não sei o que vejo,
não sei se me ralo
com o que não anseio.
penso que o tempo,
que me deixa alegre e triste
doente e são,
não me irá deixar mal
pois ele tudo cura
e eu não sei passar sem ele
assim como ele não deixa
que eu sem ele passe
para não nos sentirmos sós neste impasse

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terça-feira, janeiro 13, 2009

palavras que crescem

o sonho cresce com as palavras que escrevo,
como uma árvore que cresce em direcção à luz.
fecho os olhos e sinto as letras que a medo
desabrocham para se desprenderem da cruz
que carregam, e como num trejeito displicente
soltam, num eco, um lânguido murmuro
que apático - nem triste ou contente -
se contenta por permanecer no escuro.
alivia-se o momento de tensão
que ao entrar na voluptuosa escuridão
agachado e alerta,
como que esperando o sonho que desperta
por entre a enorme e etérea imensidão,
solta uma lágrima - salgada e molhada -
de encontro ao solo que coberto de húmus
dá vida a uma nova e sorridente planta
alimentada por sonhos e narrações perdidas,
e querendo crescer até onde a vista alcança

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segunda-feira, janeiro 12, 2009

distorção

a morte, talvez não seja a ausência de vida
mas a ausência da vontade de viver
pois por mais que vivamos sob a égide do sorriso
podemos simplesmente algo mais estar a esconder.
soltando um sorriso, uma graça, um lampejo de luz
que se desloca pelo ar emanando um brilho próprio
que contagia, ilumina, tacteia e seduz
de forma a sentir um ardor no peito
que sacia a alma faminta de cor, música, alegria,
em formas de novas ilusões imaginadas sob um passadiço estreito
por onde a pouca luz que passa, ilumina um dia inteiro.
a morte da luz que se avizinha,
apenas durará a noite ébria que condena
à escuridão etérea de um momento,
e como se não bastasse o tempo que se renega
a passar como as bolas de sabão
que sobem no ar e rebentam para a felicidade
das crianças que as tentam rebentar
deixando um rasto de luz e cor e cândidos sorrisos
para quem os conseguir encontrar

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sábado, janeiro 10, 2009

sem título

talvez porque sim
talvez porque não
talvez porque o mundo
(não) me caiba na palma da mão.
talvez não saiba
pelo excesso de razão
que me turva o ímpeto
que me sai do coração.
descalço-me para sentir
o frio que emana do chão
mas apenas vou sentindo
uma pequena incisão...
são os vidros que piso
nesta jornada de ilusão.
inspiro com fulgor
uma vez, duas, três,
sentindo o ardor
que me consome a tez
e não consigo parar
de ver o mundo girar
enquanto me convenço
que parar não é ser feliz.
e assim me venço
com uma simplicidade de petiz

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estranho

o estranho em mim
que tanto me ensina,
e contudo se perde
por entre ruas e vielas
cidades e favelas,
ermos e afins,
perde-se de mim,
ou eu dele,
e assim como assim
fico só dentro de...
dentro de mim.
esqueço as conversas,
as ideias, a cumplicidade,
e, talvez por sermos um,
sinto falta da duplicidade.

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tell me why

let me fly into the water,
let me rest up on your moon,
let me sit close to god,
let me wake up by your side.
let me stay instead of go,
let me see within your soul,
let me dream knowing why,
let me fall into the sky.
tell me why I can't fly!
tell me why I can't rest!
tell me why I can't sit!
tell me why I can't wake up!
tell me why I can't stay!
tell me why I can't see!
tell me why I can't dream!
tell me why I can fall.

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sexta-feira, janeiro 09, 2009

a procura

não tenho sonhos,
não tenho ideias,
não tenho ideais,
tampouco ouso sonhar
para não criar o que não posso
de todo almejar.
não sei para onde o mundo vai,
não sei porque ainda roda,
não sei porque a rotação
não fica fora de moda.
os livros que não leio
e a falta que me fazem
não quer apenas dizer
que não consigo fazer
o que tanto desejo,
diz também, que por querer
há algo que mais anseio

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desencanto

uma vã experiência triste
que alegremente corre pela manhã
como a brisa triste e fresca
que percorre o mar
em sua tamanha imensidão,
pára, por um momento de inquietação,
para ponderar se o momento é certo
ou se é sua solidão
que deturpa o que a vista alcança.
alegremente se entristece
ao perceber que um heterónimo
não é mais que um sinónimo
de que o outro eu está a chegar.
sente que é como o sol que não encontra a lua,
que é como o poeta que acalma o guerreiro,
que talvez seja a luz que na escuridão
se deixa cobrir por inteiro.
perde-se no momento que passa,
no momento que passou em si próprio,
no momento que fustigado no tormento,
se deixa desvanecer no seu fado.
e assim se passou o tempo que perdido
nunca mais será encontrado

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quinta-feira, janeiro 08, 2009

pausas

oiço vozes.
ao perto são extridentes
mas ao longe, apenas perturbam.
talvez as palavras que não compreendo
preencham lacunas que não colmato
ou, por outro lado, talvez, e apenas,
o silêncio das palavras que trocamos
conjugado com o som que não nos sai
dê por vezes a sensação que nos enganamos
quando falamos e o som se esvai.
desperto nessa taciturnidade
com uma luz obscura
que me turva a memória da idade
como que a esconder a escura
tentação que a alma invade.
vogando ao largo do mar
junto a terras que desconheço
e que sinto tantas vezes ter visto.
creio que o olhos me enganam
com o um isco a que resisto
e disperso a atenção
por caminhos que insisto
tentar atravessar sem razão.
termino por aqui a caminhada
e encosto-me a um turbilhão
de ideias inacabadas

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quarta-feira, janeiro 07, 2009

que bem

ai que bem que sabe
saber que a água corre
de onde as lágrimas caiem;
que os rios da alma fluem
para onde o coração se afasta
deixando a ideia nefasta
de que a alma e o coração se fundem;
que a água suja que turva a mente
se lava com a mesma água suja
que a mente turva;
que o dilema de não saber o caminho
é... é... não sei,
e é tão grave como apenas não saber
que o que não sei me torna humano

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quinta-feira, janeiro 01, 2009

... ano novo

os olhos flamejantes que disparam
palavras pela boca, que, espontâneas,
matam as flores que cresciam
como que erupções cutâneas
irradiando a paz que se perde em mim.
o caminho, curto, que percorri
por aquela estrada desconhecida
e o outro que prossegui
com as direcções perdidas,
deram uma nova forma
a uma estrada que é a vida.
uma nova estrada, como um novo ano
- talvez ambos - que mostra, para quem vê,
que o fim é apenas o princípio
apenas não sei o princípio de quê.
hipoteticamente existe um nós,
mas mais me parece que um tu e um eu
faça mais sentido, saindo da nossa voz.
na individualidade que preservo
- apenas a admito - e vinco num suposto nós
que se perder num deserto
de palavras por acabar.
a casa que construímos, pouco mais é
que um canto onde posso amar-te, a ti,
e o pouco minha que a sentia ser
apenas não é mais que a extensão de ti
onde nos podemos tocar... e conhecer

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